Autores:
MARTINS, Andréa Maria Eleutério de Barros Lima et al.
Autopercepção da saúde bucal entre idosos brasileiros. Rev. Saúde Pública . 2010, vol.44, n.5, pp. 912-922.
“Autopercepção em saúde é a interpretação das experiências e do estado de saúde no contexto da vida diária. É baseada na informação e nos conhecimentos de saúde e doença, modificados pela experiência, normas sociais e culturais. A avaliação da autopercepção da saúde bucal e da condição de saúde bucal são essenciais, pois o comportamento é modulado pela percepção dessa condição e importância dada a ela. A autopercepção da saúde favorece a participação indireta da comunidade na formulação de decisões políticas e sociais, contribuindo para uma abordagem que tenha como meta a qualidade de vida. Na Odontologia, a avaliação da autopercepção da saúde bucal rotineiramente é importante para encorajar a adesão a comportamentos saudáveis. Entre idosos, a principal razão para não procurar o serviço odontológico é a não percepção da necessidade. A autopercepção da saúde bucal tem aspecto multidimensional.”(P-912)
“ A saúde bucal, um dos componentes da qualidade de vida, refere-se a uma experiência subjetiva do indivíduo sobre o seu bem-estar funcional, social e psicológico.A autopercepção da saúde bucal é mais informativa de como a doença afeta a vida dos indivíduos do que as medidas objetivas da doença. No Brasil a assistência pública odontológica a idosos precisa ser incrementada, e a identificação da autopercepção de sua condição bucal pode ser o primeiro passo para a elaboração de programas que incluam ações educativas voltadas para o autocuidado, além de ações preventivas e reabilitadoras. Foram utilizados dados do Levantamento Epidemiológico das Condições de Saúde Bucal da população brasileira (Projeto SB Brasil), conduzido pelo Ministério da Saúde brasileiro nos anos de 2002 e 2003, conforme proposta da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1997. A amostragem foi probabilística por conglomerados, com sorteio dos indivíduos. Foram realizados entrevistas e exames nos domicílios ou escolas. Mais informações a respeito da metodologia estão disponíveis no relatório final do projeto. Foram examinados e entrevistados, em seus domicílios, 5.349 idosos com idades entre 65 e 74 anos.”(P-912)
Foi utilizada uma adaptação do modelo teórico proposto por Gift et al em 1998. Foram conduzidas análises em dois grupos: idosos dentados, que apresentavam pelo menos um dente remanescente, e edentados, que não apresentavam dentes remanescentes. A variável dependente estudada autopercepção da condição de saúde bucal foi obtida por meio da pergunta: "Como classificaria sua saúde bucal? (péssima, ruim, regular, boa, ótima)". As variáveis independentes foram reunidas em cinco subgrupos: ambiente externo (local de moradia), características individuais (idade em anos, sexo, raça autodeclarada; de predisposição: anos de escolaridade, acesso a informações sobre com evitar problemas bucais; disponibilidade de recursos: renda domiciliar per capita em reais), comportamento relacionado à saúde (uso de serviços odontológicos), condições objetivas de saúde (presença de alteração de tecido mole, número de dentes permanentes presentes, número de dentes permanentes cariados presentes, número de dentes permanentes obturados presentes, condição periodontal e necessidade de prótese), condições subjetivas relacionadas à saúde (autopercepção da dor nos dentes e gengivas nos últimos seis meses, da aparência dos dentes e gengivas, da mastigação, da fala quanto aos dentes e gengivas, do relacionamento em função da saúde bucal e da necessidade de tratamento). Das condições objetivas apenas a presença de alteração de tecido mole e a necessidade de prótese foram consideradas nas análises dos dois grupos; as demais só foram consideradas entre dentados.(P-914)
“Na regressão linear múltipla, preconizam-se os pressupostos: linearidade do fenômeno medido; variância constante dos termos de erros (homocedasticidade); independência dos termos de erros (covariância nula) ou independência das variáveis aleatórias residuais; normalidade da distribuição dos termos de erro; não verificação da multicolinearidade, a linearidade é avaliada pela análise gráfica de resíduos, do diagrama de dispersão ou pelo coeficiente de correlação. O diagnóstico da homocedasticidade é feito a partir da análise gráfica de resíduos ou do teste Levene. A verificação da covariância nula é feita pelo teste Durbin-Watson ou pela análise gráfica de resíduos. A validade da suposição da normalidade da distribuição dos termos de erro é confirmada por meio do gráfico de probabilidade normal para os resíduos e por meio dos testes de aderência à normalidade Kolmogorov-Smirnov com correção de Lilliefors ou Shapiro-Wilks. As variáveis explicativas devem ser linearmente independentes e, caso verifique-se multicolinearidade, devem-se determinar ações corretivas necessárias.’ As medidas mais comuns para avaliar a colinearidade de duas ou mais variáveis são: o valor da tolerância e seu inverso, o fator de inflação de variância (VIF = 1/tolerância). Um valor de referência comumente usado é tolerância de 0,10, o que corresponde a um VIF acima de 10.”(P916)
“ Foram conduzidas análises hierárquicas múltiplas nos dois grupos para determinar as contribuições relativas de cada variável proposta no modelo teórico. As magnitudes das associações entre a variável dependente e os fatores de interesse, em cada grupo de variáveis, foram estimadas pelo R, com nível de significância de 0,05. Os respectivos parâmetros estimados e erros-padrão foram obtidos pela regressão linear múltipla. Foi utilizado o programa SPSS11.0. A correção pelo efeito de desenho para análise de dados oriundos de amostras complexas não foi feita, pois os dados necessários para tal correção não foram disponibilizados. Esse ajuste era necessário porque a amostra do SB Brasil foi complexa por conglomerados e estimativas que não consideram a organização da amostra por cluster tendem à superestimação e à perda da precisão das estimativas. O SB Brasil foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (parecer n° 581/2000).”(P-918)
“A maior parte dos idosos brasileiros era edentada (54,8%). Entre os dentados, a maioria autopercebeu sua saúde bucal como boa . A idade média dos dentados foi 68,4 anos (DP = 3,10); a escolaridade média 3,22 anos (DP = 3,53), a renda per capita média R$ 238,07 (DP = 433,19). O número médio de dentes permanentes presentes por idosos dentados e edentados foi de 5,5 (DP = 7,9), o número médio de cariados foi 1,23 (DP = 2,91) e o número médio de obturados foi 0,73 (DP = 2,4). O número médio de dentes permanentes presentes entre os dentados foi de 12,14 (DP = 7,6), o número médio de cariados foi 2,73 (DP = 3,83) .”(P-918)
“A autopercepção da aparência foi o fator que esteve mais fortemente associado à autopercepção da saúde bucal, não tendo sido encontrados estudos prévios que tenham investigado tal associação, constatando-se a necessidade de futuras investigações sobre o tema. Sugere-se que a identificação dos fatores associados à autopercepção da aparência poderia esclarecer de forma mais precisa a autopercepção da saúde bucal entre idosos brasileiros.édio de obturados foi 1,61 (DP = 3,4).”(P-920)
“Quanto à variabilidade da autopercepção da saúde bucal, a autopercepção foi considerada positiva, embora tenham sido constatadas precárias condições de saúde bucal entre os idosos. A utilização do modelo de regressão linear na investigação da autopercepção da saúde bucal é comum, embora questionável, visto que essa não é uma variável quantitativa. A autopercepção da aparência como ótima seguida pela autopercepção positiva da mastigação e o relato de nenhuma necessidade de tratamento odontológico foram os fatores que mais contribuiriam para explicar a variabilidade da autopercepção da saúde bucal nos dois grupos. As condições objetivas de saúde colaboraram para essa explicação, especialmente entre dentados. Quanto maior o número de dentes permanentes presentes, mais negativa foi a autopercepção da saúde bucal, e quanto maior o número de dentes permanentes obturados, mais positiva foi essa autopercepção. Os fatores referentes ao ambiente externo, às características individuais e ao comportamento pouco contribuíram para o entendimento da variabilidade da autopercepção nos dois grupos. O uso de serviços odontológicos influenciou a autopercepção da saúde bucal entre dentados. O melhor entendimento dessas associações faz-se necessário para garantir qualidade de vida para idosos.”(P-922)
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